Topo

Rico Vasconcelos

HPV: o que é preciso saber dele para se cuidar sem paranoia

Rico Vasconcelos

29/06/2018 04h00

O Papilomavírus Humano (HPV) já é um antigo conhecido dos seres humanos, mas até hoje tem muita gente que desconhece sua existência, suas vias de transmissão e as estratégias eficazes de prevenção.

Vamos então fazer um resuminho com o que você precisa saber para não ficar de fora nem desesperado quando o assunto for HPV.

O HPV é a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que há mais tempo se dissemina entre os seres humanos. Já na Grécia antiga é possível encontrar registros de pessoas com verrugas genitais, e ainda hoje esse vírus é o principal causador do câncer de colo do útero em todo o mundo.

Ele só é capaz de infectar seres humanos e já foram descritos mais de 150 subtipos de HPV. Entretanto, apenas cerca de 40 são transmitidos por via sexual.

Acredita-se que praticamente toda a população mundial sexualmente ativa, em algum momento da sua vida, estará infectado com algum tipo de HPV. Por sorte, nosso sistema imunológico é capaz, em quase todas as vezes, de enfrentar esse vírus e eliminá-lo por completo, antes mesmo que ele chegue a causar algum sintoma.

Uma pequena parte das pessoas não consegue se livrar do vírus, e assim permanece com ele no corpo, algumas vezes por meses ou até anos. Entre esses indivíduos, os sintomas que podem aparecer são verrugas e, de maneira mais rara, lesões precursoras de câncer. O principal câncer causado pelo HPV é o de colo de útero, mas também existem casos de câncer de canal anal, pênis, boca e garganta relacionados com o vírus. Todos eles são potencializados por fatores comportamentais, como por exemplo o tabagismo.

A transmissão do HPV pode ocorrer quando existe contato e atrito entre a pele ou mucosa de duas pessoas. Dessa maneira, é possível concluir que mesmo usando o preservativo masculino pode ainda haver transmissão do HPV, uma vez que existe contato da pele que permanece descoberta. O preservativo feminino, por cobrir uma área maior da pele, teoricamente promove uma proteção um pouco melhor.

Assim, achar que é possível passar por esse planeta, com vida sexual ativa, sem cruzar com o HPV é uma ilusão. Melhor do que buscar essa utopia é entender que a meta não deve ser não pegar HPV, e sim ficar atento às formas raras mais graves da infecção.

Para isso, não se culpe e nem se desespere caso descubra que está com HPV. Se encontrou uma verruga genital ou outra lesão nova em você, procure logo avaliação médica para realizar o tratamento, pois assim resolve o seu problema e deixa de transmitir para outras pessoas.

Em mulheres está indicado o rastreamento do HPV e do câncer do colo de útero, mesmo que não haja sintomas. Isso é feito na rotina do acompanhamento ginecológico com o exame de Papanicolau. Não existe ainda recomendação de rastreamento de rotina do HPV em homens e nem em outros sítios, como por exemplo na garganta.

Há alguns anos foram desenvolvidas vacinas para a prevenção contra o HPV. Elas induzem uma resposta imune bastante potente capaz de evitar a infecção pelo vírus e reduzir de maneira significativa os casos de verrugas genitais e de cânceres associados ao HPV. E isso, sem causar efeitos colaterais graves.

Esse efeito protetor, no entanto, só é o ideal quando a vacinação é feita antes do primeiro contato com o vírus, como, por exemplo, antes do início da vida sexual. Por esse motivo, no Brasil é recomendada pelo SUS a vacinação de meninas de 9 a 14 anos e de meninos de 11 a 14 anos. Mas, apesar de gratuita, a cobertura da vacinação completa ainda se encontra muito abaixo da desejada – 52,9% entre as meninas e 8% entre os meninos.

Em estudo recente, realizado pelo Ministério da Saúde, com jovens entre 16 a 25 anos de idade, em 54,6% das meninas e 51,8% dos meninos foi encontrado algum tipo de HPV. Esse estudo servirá de base para comparação com os próximos dados que serão coletados em 2020. O objetivo é a demonstração da eficácia da vacinação, implementada no Programa Nacional de Imunização desde 2014, na redução da prevalência de HPV.

Assim, com a vacina temos pela primeira vez uma ferramenta de prevenção de fato eficaz contra o HPV, e por isso já se pode imaginar um futuro em que o HPV deixará de ser uma preocupação. Até lá, o plano é usar a camisinha o máximo que puder, ficar atento às lesões que surgirem e perder o medo de aplicar a vacina nas crianças e adolescentes.

 

Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.