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Rico Vasconcelos

Rede de PreP do SUS quase dobrou; onde buscar essa prevenção contra o HIV?

Rico Vasconcelos

21/09/2018 04h00

Crédito: iStock

Nas últimas semanas, o número de serviços que fazem o atendimento de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde praticamente dobrou em todo Brasil.

Desde o início de 2018, 36 centros estavam funcionando em todo país para o atendimento da população interessada em iniciar a PrEP. Depois de realizada mais uma rodada de capacitação para os novos centros, a partir de setembro, passamos a ter 65 centros oferecendo essa estratégia de prevenção. É possível se atualizar sobre a implementação da PrEP no SUS e encontrar  os centros que realizam o atendimento em www.aids.gov.br/PrEP.

Agora, há ao menos um centro oferecendo PrEP em cada estado do país e a meta agora é fazer esse número crescer.

No estado de São Paulo, por exemplo, desde o início da PrEP-SUS temos 14 centros realizando o atendimento de PrEP, dos quais oito estão na capital. Essa concentração em um único estado não acontece por acaso, afinal, 25% das novas infecções por HIV no último ano ocorreram em território paulista.

Justamente por esse motivo, o plano dos Programas Estadual e Municipal de IST/Aids de São Paulo é de triplicar o número de serviços que atendem a demanda de PrEP até o final de 2018. Com isso haverá uma capilarização dessa rede de atendimento de prevenção no estado, possibilitando a diminuição da fila de espera para o primeiro atendimento e dividindo esse trabalho entre mais serviços e mais profissionais.

O plano é simples: melhor do que alguns serviços atendendo muitos usuários, muitas vezes de maneira sobrecarregada, é termos muitos serviços atendendo cada um deles uma quantidade adequada de pessoas.

O resultado desse plano será a ampliação do acesso à prevenção e à saúde sexual para as populações mais vulneráveis ao HIV e, como consequência, sonhamos um dia com uma queda significativa nos novos casos dessa infecção, como já está acontecendo em outras partes do planeta que adotaram o mesmo projeto.

Além dos planos futuros, não posso deixar de pontuar também o que já temos feito até agora na implementação da PrEP-SUS. Entre janeiro e agosto/2018, mais de 4.000 pessoas já se vincularam ao seguimento de PrEP no Brasil, sendo mais de 2.000 deles só no estado de São Paulo. Isso sem contar as pessoas que compram a PrEP no mercado privado. Esse número é impressionante quando comparado ao de outros países também no início do oferecimento da PrEP. Na França, que oferece PrEP gratuita desde 2016, foram vinculadas até agora cerca de 6.000 pessoas a esse seguimento.

A implementação e ampliação da PrEP no sistema público de saúde brasileiro merece ainda mais destaque por se tratar de uma ação custo-efetiva de saúde pública, quando indicada para grupos mais vulneráveis ao HIV. Isso significa que, investir em prevenção agora trará economia para o país no futuro, uma vez que infecções por HIV e suas complicações serão evitadas.

Comemore mais esse avanço na resposta brasileira à epidemia de HIV.

Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.