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Rico Vasconcelos

Conheça as últimas novidades de prevenção da conferência mundial de HIV

Rico Vasconcelos

08/03/2019 04h00

Crédito: iStock

Enquanto os brasileiros pulavam carnaval, em Seattle nos Estados Unidos, aconteceu o CROI –Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections – a maior conferência mundial da área de tratamento e prevenção de HIV.

Este ano, o anúncio de maior repercussão foi o da cura do HIV do segundo paciente submetido a um transplante de medula óssea, mas muita coisa interessante também aconteceu por lá e outras apresentações também merecem atenção. Assim, escolhi duas delas para comentar.

A primeira delas foi feita pela médica Dana Ogaz, do Departamento de Saúde Pública da Inglaterra, mostrando os números da epidemia de HIV no seu país. Segundo ela, depois de 2012, quando começou a expansão do uso da estratégia da Prevenção Combinada, o número de novos casos de infecções por HIV por ano entre homens gays e bissexuais na Inglaterra passou a cair de maneira significativa.

Segundo os dados apresentados, somente entre os últimos dois anos, essa queda foi de 55%, desenhando uma tendência nunca antes vista desde o início da epidemia na década de 1980. Essa foi a vez da Inglaterra mostrar a redução na incidência de HIV, mas em outros lugares do mundo esse sucesso também já vinha sendo visualizado.

No Brasil, estamos vendo o contrário, com o aumento da proporção de casos reportados entre gays e bissexuais, chegando em 2017 a quase 60% dos casos novos, segundo o último Boletim Epidemiológico.

Estamos aqui vivenciando uma expansão ainda tímida da Prevenção Combinada, com pouco mais de 1 ano do início da implementação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) contra o vírus como política pública de saúde, em breve chegando aos 10.000 usuários pelo SUS.

A outra apresentação da conferência que merece destaque foi a do estudo DISCOVER, realizada pelo pesquisador Brad Hare, de San Francisco, nos Estados Unidos. Esse foi um ensaio clínico que avaliou a eficácia e a segurança de um novo medicamento chamado Descovy para PrEP.

O Descovy é a associação da Entricitabina com o Tenofovir Alafenamida, uma versão melhorada do Truvada, único medicamento utilizado até então para a PrEP. Melhorado por conta da menor chance de causar efeitos colaterais renais e ósseos, o que era visto em alguns dos usuários do Truvada.

O Descovy já era aprovado para uso no tratamento antirretroviral de pessoas que vivem com HIV, mas agora sabemos que ele também pode ser usado para prevenção dessa infecção.

A descoberta é muito bem-vinda, pois passamos a ter mais uma opção de medicamento para PrEP, que protege tão bem quanto o anterior e tem menos efeitos colaterais.

É dessa forma que a ciência dá seus passos. Caminhando sobre pesquisas sérias e bem feitas. Cabe a nós aprender com elas e utilizar na prática esses conhecimentos.

Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.