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Rico Vasconcelos

Nova vacina contra o HIV entrará em fase de estudos na Europa e Américas

Rico Vasconcelos

19/07/2019 04h00

Crédito: iStock

De todos os modelos de controle de doenças infecciosas, a utilização de vacinas é considerada o sonho perfeito. Isso porque, com uma campanha de vacinação bem estruturada e a produção de anticorpos protetores contra um determinado vírus ou bactéria por toda uma população, é possível erradicar uma doença. No entanto, uma das partes mais difíceis dessa história é o desenvolvimento de uma vacina que seja satisfatoriamente eficaz e segura.

Esse tem sido um dos principais desafios que enfrentamos na história da luta contra o HIV, mas estamos prestes a ver uma mudança acontecer.

Muito já se investiu em estudo, tempo de trabalho e recursos para o desenvolvimento de uma vacina capaz de proteger as pessoas do HIV, para enfim reduzir o número de novos casos registrados da infecção anualmente em todo o mundo. Porém, na melhor de todas as vacinas testadas até hoje, o resultado obtido foi apenas a modesta redução em 31% na incidência de HIV entre os vacinados.

Todas as demais candidatas a vacinas contra HIV ou não tiveram influência no risco de aquisição do vírus ou, o que é ainda pior, aumentaram de maneira equivocada a chance dos indivíduos vacinados se infectarem com o vírus.

Durante a última década foi então criada a HIV Vaccine Trials Network (HVTN) – que pode ser traduzido para a Rede de Pesquisas de Vacinas contra HIV. Essa é uma rede colaborativa internacional de pesquisadores especialistas tanto da área de vacinas quanto de HIV, sediada em Seattle, nos EUA. Ela tem sido responsável por todos os importantes avanços nas pesquisas sobre o tema.

Essa semana a HVTN anunciou o lançamento de um novo estudo que pretende revolucionar a prevenção do HIV com vacinas. O estudo chamado Mosaico será iniciado ainda em 2019 nos EUA, e futuramente expandido para o Brasil, Argentina, México, Peru, Itália, Polônia e Espanha. Nele será testada uma vacina experimental que, em estudos com macacos, já demonstrou proteção contra a infecção em cerca de 2 terços dos vacinados.

A nova vacina contem imunógenos de várias cepas virais com o objetivo de induzir proteção contra os diferentes tipos de HIV circulantes no planeta. Ela será aplicada em homens cisgênero gays e bissexuais e em travestis/mulheres trans, grupos populacionais mais vulnerabilizados à epidemia de HIV.

O Mosaico pretende recrutar 3.800 participantes com idade entre 18 e 60 anos que receberão todo o pacote de prevenção atualmente disponível, além das doses da vacina. Metade deles receberá a aplicação da vacina experimental e a outra metade receberá placebo.

Essa vacina já está sendo utilizada desde 2016 no estudo Imkobodo, que atualmente acompanha 2.600 mulheres de 18 a 35 anos de idade recrutadas em 5 países da África Subsaariana. Os resultados iniciais desse estudo são esperados para 2021.

Uma vacina que proteja do HIV é muito esperada desde a década de 1980. Mesmo que ela não garanta uma proteção de 100%, ainda poderá ser utilizada como ferramenta adicional dentro do cardápio da Prevenção Combinada, juntamente com o uso do preservativo, da PrEP e da PEP. Com mais possibilidades de prevenção estaremos cada vez mais próximos do controle da epidemia de HIV.

Se você se interessa sobre o assunto, fique atento pois logo mais se iniciará o trabalho de recrutamento de participantes no Brasil.

Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.