Medicamento para HIV pode funcionar para o novo coronavírus chinês
A infectologia definitivamente não é uma especialidade médica monótona. Em todos os anos certamente teremos um momento em que os noticiários e a preocupação das pessoas vão se voltar para algum vírus ou bactéria.
Já teve ano em que foi o HIV, em outro a gripe suína, no seguinte o H1N1, depois a dengue, o chikungunya, o zika vírus, a hepatite A, a febre amarela, o sarampo e assim por diante. Desde que resolvemos viver sobre a terra, somos alvo de diferentes agentes infecciosos. Sempre foi assim e assim sempre será.
O agente infeccioso da vez é o novo tipo de um vírus já conhecido. O coronavírus de agora surgiu e começou a causar uma doença respiratória em seres humanos a partir do final de 2019 na China. Tudo ainda é muito recente e por isso ainda estamos entendendo as características e a gravidade da doença causada por esse vírus, mas já percebemos que ele merece atenção.
Em pouco mais de um mês, o 2019-n-CoV – como tem sido o chamado o novo vírus – já infectou quase 10.000 pessoas em diferentes continentes, causando 171 mortes em decorrência de pneumonia grave e refratária ao tratamento.
Há alguns anos, outros dois tipos de coronavírus também causaram epidemias entre humanos. Em 2002, o causador da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e, a partir de 2012, o da MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Mesmo que não tenham devastado a humanidade, os dois vírus foram muito estudados e até hoje servem de base para pesquisas científicas.
Descobriu-se, por exemplo, que em modelos experimentais alguns medicamentos tinham ação antiviral contra os coronavírus SARS e MERS. Um dos candidatos que se mostraram promissores foi o antirretroviral Lopinavir/Ritonavir, que há mais de 10 anos é usado com sucesso para tratar pessoas que vivem com HIV.
A ampla disponibilidade desse medicamento possibilitou o rápido início das pesquisas com o Lopinavir/Ritonavir em pessoas infectadas com coronavírus. Em um trabalho de 2004, houve redução significativa das mortes quando se usava esse antirretroviral no tratamento de pacientes com SARS. E, desde 2016, o estudo MIRACLE está recrutando participantes com MERS para avaliar se efeito semelhante ocorre com esse tratamento antiviral.
Seguindo a tendência, um novo estudo já está sendo conduzido neste momento para avaliar o efeito do Lopinavir/Ritonavir no tratamento de indivíduos diagnosticados com o coronavírus chinês. Em breve teremos os primeiros resultados divulgados.
Não sabemos ainda se esse medicamento irá nos ajudar no enfrentamento da nova epidemia, mas é importante que as pessoas saibam que centenas de pesquisadores em todo mundo dedicam suas vidas e carreiras ao desenvolvimento de vacinas para prevenção de novas infecções e ao teste de tratamentos para os já infectados.
A garantia de uma boa estrutura e financiamento para o desenvolvimento dessas pesquisas é absolutamente fundamental para que mais rapidamente sejam encontrados meios para conter os novos vírus e bactérias que surgiram e ainda vão surgir.
Ainda que a internet tente nos convencer disso, agora não é momento para entrar em pânico. Já que o aparecimento de novas epidemias é certo e inevitável, a melhor maneira então para se viver sobre a terra é seguir as orientações das autoridades de vigilância epidemiológica e permitir que a ciência cumpra o seu papel.
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