Estudo com vacina experimental de HIV falha na África do Sul
Em declaração de 2017, Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas e Alergia dos Estados Unidos, afirmou que por mais que tenhamos inúmeras estratégias de prevenção contra o HIV, como a camisinha, a PrEP, a PEP e o tratamento das pessoas que vivem com o vírus, jamais conseguiremos atingir o controle completo e sustentado dessa epidemia sem que tenhamos também uma vacina capaz de proteger de maneira eficaz as pessoas dessa infecção.
Até hoje, já foram feitas muitas pesquisas sem sucesso em busca dessa vacina e, há uma semana, o mundo ficou sabendo que mais um dos candidatos a esse papel falhou. O estudo HVTN 702, que testava desde 2016 uma vacina experimental contra o HIV na África do Sul, foi interrompido depois que a análise parcial dos dados mostrou que a vacina não era capaz de gerar proteção contra o vírus.
Os 5.407 homens e mulheres incluídos no estudo, foram sorteados para receber doses da vacina experimental ou de placebo, e a análise realizada em janeiro de 2020 por um grupo auditor independente encontrou que o número de casos incidentes de HIV foi semelhante nos dois grupos.
A notícia decepcionou a comunidade científica internacional uma vez que a vacina utilizada no HVTN 702 era uma versão potencializada daquela que tinha conseguido os melhores resultados até então dentre todas as vacinas já testadas. No estudo RV144, desenvolvido anteriormente na Tailândia, os indivíduos vacinados com essa vacina tiveram 30% menos infecções do que o grupo placebo. Assim, o que se esperava do HVTN 702 era uma proteção igual ou maior que a encontrada no RV144.
Mas na ciência é assim mesmo. Até os estudos que dão errado nos ensinam e ajudam nos próximos passos. E isso não quer dizer que não teremos nunca mais uma vacina que proteja do HIV. Inclusive, existem no mundo mais dois grandes estudos em andamento testando uma vacina mais nova e promissora que a do RV144 e HVTN 702.
São os estudos Imbokodo e o Mosaico. Os dois estão testando a eficácia protetora e a segurança de uma mesma vacina experimental em diferentes populações vulneráveis no mundo. O Imbokodo, também chamado de HVTN 705, recrutou mulheres heterossexuais na África e o Mosaico, ou HVTN 706, está incluindo homens gays/bissexuais e pessoas trans nas Américas e na Europa.
Aqui na América do Sul teremos como países participantes do Mosaico Brasil, Argentina e Peru, e o início do recrutamento está previsto ainda para o primeiro semestre de 2020. O estudo pretende incluir no mundo todo 3.800 participantes que serão sorteados para receber, além de todo o pacote conhecido de prevenção, as doses da nova vacina ou de placebo, e serão acompanhados por anos realizando testagem periódica para o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Em estudo com macacos, a vacina que está sendo testada nos estudos Imbokodo e Mosaico, promoveu uma redução de 67% nas infecções por HIV. Os pesquisadores esperam que em humanos a proteção será igual ou maior.
Nunca na história se estudou tanto a prevenção do HIV e de outras ISTs. Esse é o resultado da percepção de que a tentativa de controle da autonomia e da vida sexual dos indivíduos, com uma prevenção simplista e prescritiva, que impõe o uso de preservativo ou a abstinência sexual, simplesmente não funcionaram.
Entre falhas e acertos as pesquisas estão encontrando mais e mais opções de prevenção eficaz. E assim, logo a projeção de Anthony Fauci será uma realidade. É tudo uma questão de tempo e de apoio à pesquisa científica.
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