Para começo de conversa é importante falar da diferença entre IST e DST
A partir de hoje, com muita motivação, começo a discutir também aqui em VIVA BEM temas relacionados a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), HIV e outras, suas prevenções e seus tratamentos. Sempre buscando trazer o que há de mais atual acontecendo no mundo.
Em primeiro lugar quero que percebam que usei o termo IST e não o já bem mais conhecido DST. Essa mudança na terminologia passou a ser recomendada em 2016 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e tem como objetivo tornar o termo mais abrangente, uma vez que o termo Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) pressupõe que haja sintomas, enquanto Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) incluem também aquelas situações assintomáticas.
Essa mudança é necessária porque sabemos muito bem que hoje existem verdadeiras epidemias circulando pelo mundo de maneira silenciosa, com milhares de pessoas todos os anos pegando e passando para frente vírus e bactérias, sem sentirem absolutamente nada.
Dar o nome certo para as coisas é fundamental. Assim como dar o peso certo para elas. A visão moderna das ISTs não as entende como se estivessem acontecendo como consequência de coisas erradas que as pessoas fizeram. Ninguém pega sífilis, por exemplo, como castigo por ter feito sexo sem camisinha, e sim como resultado de uma dinâmica bem mais complexa de transmissão populacional do Treponema pallidum, somada à vulnerabilidade específica daquela pessoa, o que leva em conta, por exemplo, suas práticas sexuais e estratégias de prevenção utilizadas.
Assim como não há castigo, também não deve haver julgamento e nem culpa por uma IST. Senão, a pessoa que transmitiu aquela sífilis, por não ter feito o seu diagnóstico nem o tratamento, também teria que estar presente no tribunal no dia da audiência. Aliás, considerando todas as ISTs, sintomáticas e assintomáticas, praticamente toda a população mundial em algum momento da sua vida estará com alguma infecção. Mas a grande maioria das pessoas consegue se resolver e se curar apenas com sua resposta imune, como acontece nos casos de HPV. Em outras palavras, estamos todos no mesmo barco e as ISTs devem interessar a qualquer um que tenha vida sexual ativa.
No lugar da culpa, quando se fala de ISTs é muito melhor procurar desenvolver a noção de responsabilidade e de autocuidado. O discurso da culpa foi o que predominou nas últimas três décadas de enfrentamento da epidemia de HIV, e vejam os seus resultados: desde o primeiro caso notificado em meados dos anos 1980, o número de pessoas vivendo com HIV no Brasil nunca diminuiu, só aumentou. Já aumentou mais rápido, já aumentou mais devagar, mas temos ainda mais de 40.000 novos casos de infecção por HIV contabilizados todos os anos. Isso mostra como plantar a culpa e o medo na cabeça das pessoas não tem funcionado. Pelo menos não quando se fala de ISTs.
Deixemos a culpa pra lá e tiremos ela da cabeça, até mesmo se você for hoje diagnosticado com uma IST. Funciona melhor buscar o tratamento logo para que essa infecção não traga prejuízos no futuro e para quebrar a corrente de transmissão, fazendo com que deixe de ser um potencial transmissor para outras pessoas.
Para todo o resto do mundo, que não teve o diagnóstico de uma IST hoje, o que mais parece funcionar é ensinar cada um a gerenciar as suas vulnerabilidades, o que chamei há pouco de responsabilidade e autocuidado. É fazer cada um pensar na sua vida sexual e entender em que momentos podem estar ocorrendo chances de pegar uma IST, qual IST e quais as maneiras existentes de se reduzir essas chances. É claro que entra também nessa equação a qualidade da vida sexual e o tesão, afinal, o tesão importa. E é por isso que mais do que nunca as abordagens da prevenção contra ISTs, mais do que ditar uma fórmula padrão e controlada, igual para todos, têm dado autonomia para cada indivíduo escolher suas estratégias de prevenção (novamente responsabilidade e autocuidado).
Acredita-se assim que as melhores maneiras de prevenção contra uma IST são aquelas que o indivíduo escolhe usar, que entende como funciona e é capaz de utilizar de maneira correta e constante. A isso se dá o nome de Prevenção Combinada, que inclui não só ações focadas no indivíduo e na sua vida sexual, como também ações estruturais mais amplas, como as de educação em saúde e garantia de cidadania.
No Brasil, o Ministério da Saúde e o Departamento de ISTs, Aids e Hepatites Virais começou a trabalhar a prevenção dessa maneira muito recentemente, no final de 2017, mas em outros lugares, como em San Francisco (EUA), Londres e na Austrália, onde já foram implementados tais conceitos há alguns anos, já foi possível ver as quedas inéditas por exemplo no número de novos casos de infecção por HIV.
Por fim, convido a todos que têm vida sexual ativa e aos demais interessados a conhecer e se aprofundar nessa maneira mais moderna de encarar o HIV e as ISTs, um assunto que sempre foi tão repleto de preconceitos e julgamentos. Mas para isso preciso que primeiro você esteja disposto a abandonar seus preconceitos e julgamentos. Seja bem-vindo!
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.