O longo caminho entre a implementação e o sucesso da PrEP

Crédito: iStock
O Brasil foi um dos primeiros países de renda média do mundo a disponibilizar a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) como estratégia de prevenção do HIV no seu sistema público de saúde. Isso é um avanço realmente muito importante, mas não significa que teremos automaticamente a epidemia de HIV controlada no país num futuro próximo.
Para que a redução no número de novos casos da infecção se repita no Brasil, como aconteceu em outros países, algumas metas ainda precisam ser atingidas. E duas delas são da maior importância: fazer a PrEP chegar aos que vivem situações de maior vulnerabilidade ao HIV e garantir a retenção desses indivíduos a um seguimento adequado.
Para a primeira meta, as populações chave mais afetadas pela epidemia, como os gays, bissexuais, travestis/transexuais, usuários de drogas e trabalhadores(as) do sexo, precisam abraçar a causa da prevenção combinada. Na Austrália, por exemplo, os bons resultados no controle dos novos casos de HIV apareceram somente quando 25% da população gay tinha aderido à PrEP.
Isso não significa que alguém deva ser forçado a iniciar a PrEP. Mas sim que a informação e a disponibilidade da estratégia precisam chegar, de maneira clara, sem vieses ou julgamentos, às pessoas que não conseguem se proteger do HIV de maneira efetiva apenas com a camisinha. E sabemos que essas pessoas existem e são muitas.
Para isso, o Ministério da Saúde está desenvolvendo uma Agenda Estratégica para Populações Chave. Ela tem o objetivo de promover a ampliação nesses grupos do acesso às ferramentas da Prevenção Combinada e do cuidado integral à saúde. Estão previstas no projeto inúmeras ações que, além da oferta de PrEP, incluem itens como o combate à discriminação, a educação em saúde e o rastreamento/tratamento de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) além do HIV.
Tão importante quanto a primeira meta, reter em seguimento regular as pessoas que já iniciaram a PrEP é fundamental. Afinal, assim como em qualquer outra estratégia de prevenção, a PrEP depende de uma boa adesão para garantir a proteção.
A questão é que, no Brasil e no mundo, as pessoas que mais se interessam pela PrEP, mais se mantém retidas ao seguimento e têm melhor adesão aos comprimidos, são as mais velhas, mais escolarizadas, com maior renda média e com mais acesso à informação. E, portanto, não são as mais vulneráveis ao HIV.
Em outras palavras, as pessoas que mais se beneficiariam da PrEP, em geral não são as que a procuram.
A PrEP está disponível no Sistema Único de Saúde, indicada para indivíduos pertencentes às populações chave, desde dezembro de 2017. Segundo o Ministério da Saúde, até o final de julho/2018, 2.748 pessoas já haviam iniciado a estratégia no SUS, sem contar com as pessoas que compram a PrEP no mercado privado.
A fila de espera para o atendimento ainda é grande na maioria dos centros que oferecem a estratégia e, entre as pessoas que já estão em PrEP, são frequentes as faltas às consultas agendadas de retorno e a não coleta dos exames de rotina solicitados, o que emperra muito esse fluxo de atendimento.
Essas quase 3.000 pessoas em PrEP podem parecer ainda um número pequeno num país com o tamanho do Brasil, mas o planejamento é de aumento do número de centros que fazem o atendimento de PrEP em todos os estados, o que possibilitará uma ampliação significativa do número de pessoas usando a estratégia em curto e médio prazo.
O empenho governamental, no entanto, precisa ser acompanhado pelo envolvimento comunitário. Estar em PrEP é muito mais do que apenas tomar comprimidos. É se engajar numa rotina de cuidado da saúde. E assim, além da boa adesão aos comprimidos, é preciso se comprometer com o acompanhamento, comparecendo às consultas de retorno e realizando os exames de rotina.
Participe dessa revolução na prevenção, mas não deixe de colher seus exames de rotina e nem abandone suas consultas. Assim estará se co-responsabilizando com a melhora da sua saúde e de toda a sua comunidade.
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