Mais de Serosorting, para quem não entendeu a estratégia que previne HIV

Crédito: iStock
A repercussão do texto da semana passada explicando o que é o Serosorting me fez perceber que deveria dedicar mais algumas palavras para explicar a estratégia de prevenção que tem enorme potencial no controle do HIV, se for adotada no Brasil.
O entendimento de que o texto propunha que se adotasse hoje o Serosorting dos anos 1980 era um equívoco que eu não previa. Essa prática, que no passado sugeria que as pessoas escolhessem seus parceiros sexuais pelo resultado do exame de HIV, promoveu muita segregação e preconceito. Mas, com as novas tecnologias e descobertas de prevenção, ela se reinventou.
Agora, o Serosorting moderno consiste na escolha dos parceiros pelo uso das ferramentas de prevenção capazes de bloquear a transmissão do HIV.
Essa revolução no Serosorting inverte a lógica da segregação e faz com que indivíduos que antes eram evitados se tornem os que oferecem o menor risco de transmissão, como no caso dos que vivem com HIV indetectáveis e não transmissores. O mesmo ocorre com a PrEP que, quando dada para as pessoas que antes eram consideradas as de maior vulnerabilidade ao HIV, as transforma nas com menos chance de se infectar ou de transmitir esse vírus.
O Serosorting, que antes separava as pessoas, serve agora como meio para aproximá-las, derrubando estigmas e dissolvendo a sorofobia epidêmica existente no Brasil.
Pense num casal sorodiferente. Você não acha que o sexo entre eles terá menos risco de transmissão do HIV e mais tranquilidade depois que a pessoa que vive com vírus se tornar indetectável e a outra entrar em PrEP? E ainda mais, quando cada uma delas ficar sabendo dessa informação sobre a outra?
Mas é preciso querer conversar sobre isso. E nada disso de modo obrigatório ou à força. Ao contrário, o assunto deve entrar na conversa se e quando os envolvidos se sentirem à vontade. Quanto mais frequente for a prática de conversar sobre prevenção com seus parceiros, mais à vontade as pessoas ficarão para falar sobre o assunto. E isso vale para todos os casais, não apenas para os sorodiferentes.
Algo simples como "Você tem cuidado da prevenção do HIV e das outras ISTs?" pode começar esse papo e reduzir muito a vulnerabilidade de uma pessoa a essas infecções.
Se por um lado essa abordagem pode parecer invasiva ou desrespeitosa, por outro pode ser algo positivo e inclusivo, fruto de carinho, desde que a conversa seja livre de moralismo e julgamento.
Atendi no consultório essa semana, um rapaz recém diagnosticado com infecção por HIV, já em estágio avançado da doença. Ele nunca havia feito um teste de HIV pois não queria saber isso.
Vivemos num país em que apenas metade das pessoas usam o preservativo com suas parcerias sexuais casuais. Estratégias de prevenção adicionais precisam ser associadas se queremos controlar a epidemia de HIV.
Não querer saber do HIV nem de prevenção é o que já fizemos por tempo demais. Se acostumar a falar sobre o assunto é um dos passos mais importantes para se acabar com o estigma e com o HIV.
#EuFaloSobre
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