Mulheres lésbicas ou bissexuais não são imunes às IST
Essa semana atendi uma paciente que buscava orientações sobre prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Até aí, nada de especial. Afinal, com a ampliação do debate sobre saúde sexual e com a multiplicação das tecnologias de prevenção, esse assunto está se tornando cada vez mais comum entre as pessoas sexualmente ativas. Mas o que me surpreendeu positivamente foi que se tratava de uma moça lésbica.
Existe no senso comum a ideia de que as mulheres que se relacionam com mulheres não precisam se preocupar com as IST. Essa percepção vem da baixíssima transmissibilidade do HIV por meio do sexo entre mulheres. Entretanto, esse é um equívoco tão perigoso quanto a afirmação de que somente gays podem se infectar com HIV.
A verdade é que as mulheres lésbicas e bissexuais são um grupo muito heterogêneo e elas não têm todas as mesmas práticas sexuais. E, além disso, o HIV não é a única IST existente nesse mundo.
Conhecer qual a prática sexual desenvolvida por uma pessoa é um passo fundamental na avaliação da sua vulnerabilidade às diferentes IST. Mas, entre mulheres lésbicas e bissexuais, assim como no caso de outros LGBT, esse aspecto costuma ser pouco abordado por profissionais da saúde. E isso por si só já é um fator que as vulnerabiliza a essas infecções.
Sabemos por exemplo que, entre mulheres, as práticas sexuais em que acontece troca de fluidos vaginais ou sangue menstrual, principalmente as que envolvem penetração utilizando dedos ou brinquedos sexuais, apresentam riscos pequenos, mas que não podem ser ignorados, de transmissão de HIV. E que para as outras IST podem ser ainda maiores, especialmente entre as mulheres que também têm sexo com homens.
Assim, para reduzir a transmissão de HPV, herpes, sífilis, clamídia, tricomonas e vaginoses bacterianas, lavar bem as mãos e os brinquedos antes e depois do sexo, procurar usar preservativo no brinquedo quando ele for compartilhado e manter as unhas aparadas e limpas são estratégias de prevenção simples e de fácil adesão.
O sexo oral, por sua vez, apresenta risco bem menor de transmissão de qualquer IST, principalmente se evitado durante o período menstrual. Tanto que, em um estudo que avaliou mais de 1.500 mulheres lésbicas nos Estados Unidos, o sexo oral sem o uso de qualquer método de barreira foi reportado por quase 90% das entrevistadas, e essa prática não foi associada à maior incidência de IST.
A infecção por HPV é um bom exemplo de como as IST merecem a atenção das mulheres que se relacionam com outras mulheres. Por conta da ausência de sintomas nas fases iniciais dessa infecção e do despreparo dos profissionais ginecologistas no atendimento dessa população, é comum encontrar mulheres lésbicas e bissexuais sem acompanhamento ginecológico adequado. O resultado disso é a maior incidência de câncer de colo uterino, uma complicação do HPV, encontrada na população lésbica quando comparada com a heterossexual.
Da mesma forma que o HPV, qualquer IST que não for prevenida nem rastreada por causa de homofobia e do descaso institucional com grupos historicamente marginalizados, terá maior chance de causar neles doenças mais graves.
As mulheres lésbicas e bissexuais não devem ser privadas da prevenção das IST por conta de sua orientação sexual. Ao terem suas demandas de saúde sexual acolhidas e se mantendo em dia com o acompanhamento ginecológico e de rastreamento das IST, podem desfrutar de maior qualidade de vida e de saúde como um todo.
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