Qual o impacto da homofobia no acesso à saúde no Brasil?
Essa semana aconteceu, em São Paulo, o seminário "Zero Discriminação nos Serviços de Saúde", organizado pelo escritório brasileiro do Unaids e pelo Ministério da Saúde. Durante dois dias, no Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP), representantes de todo o Brasil debateram o impacto de diferentes tipos de discriminação no atendimento prestado no Sistema Único de Saúde (SUS).
Coube a mim discutir o impacto da homofobia no acesso à saúde brasileira. Com o intuito de ampliar esse debate, resumo aqui o que disse em minha apresentação.
Por definição, homofobia é o medo irracional, a aversão ou a discriminação, motivados pela orientação sexual homossexual de um indivíduo. Ela pode existir numa sociedade de várias formas, mas, com frequência, se apresenta como violência, seja ela verbal, seja psicológica, seja sexual, seja física.
Sendo um sentimento irracional, a homofobia não é justificável com argumentos. Atinge suas vítimas pelo simples fato de elas existirem daquela maneira, homossexuais.
Mesmo sendo um fenômeno social, do campo das interações humanas, a homofobia provoca problemas na saúde individual das pessoas. Já existem inúmeros trabalhos que associam a ocorrência de homofobia à maior incidência em suas vítimas de transtornos psiquiátricos, abuso de álcool e outras drogas, suicídio e aumento da vulnerabilidade ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Um exemplo claro disso é a maneira como a epidemia de HIV se dissemina no Brasil. Enquanto a prevalência dessa infecção na população geral é baixa e não passa dos 0,4%, entre os gays ela saltou de 13% para 18% em menos de 10 anos, já chegando, na cidade de São Paulo, ao nível alarmante de 25%.
Um dos fatores determinantes para que isso acontecesse é o menor acesso aos serviços de saúde pela população homossexual, o que, por sua vez, tem como principal causa a homofobia e discriminação sofrida nesses ambientes.
Em um serviço de saúde que considera a heterossexualidade como orientação sexual única, normal ou natural, qualquer diversidade será discriminada. Isso faz com que as pessoas escondam sua homossexualidade ou, o que é ainda pior, parem de frequentar o serviço de saúde.
O despreparo dos profissionais para lidar com as demandas de saúde específicas da população homossexual é mais um fator que a vulnerabiliza, privando-a do atendimento médico ideal.
Esses fatores, juntos, provocam uma falsa invisibilidade de gays e lésbicas ao sistema de saúde brasileiro. Falsa porque esses indivíduos não comparecem apenas aos atendimentos de saúde em que deveriam estar. Aparecendo, porém, somente mais tarde, na forma de números que evidenciam o fracasso na atenção prestada à saúde, como nos casos de câncer de colo de útero, em mulheres lésbicas, ou de aids diagnosticados já em estágio avançado, entre homens gays.
O atendimento da população homossexual com discriminação nesses serviços, assim como da bissexual e transexual, priva essas pessoas da atenção integral à saúde e aumenta com isso sua mortalidade. É uma violação dos direitos humanos garantidos pela constituição brasileira e pelos princípios do SUS. E traz aumento de gastos para os cofres do país.
A conclusão do seminário foi que lutar contra a discriminação contra LGBT, assim como contra negros, pessoas que vivem com HIV, trabalhadores do sexo, dependentes químicos, privados de liberdade e pessoas vivendo em situação de rua, faz com que o país se torne um país melhor. E não só para as vítimas da discriminação, mas para toda a população brasileira.
Dessa maneira, aceitar ou promover qualquer tipo de discriminação é uma burrice que impede o progresso e gasta desnecessariamente os recursos de um país.
Pense nisso nas próximas eleições.
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