Gonorreia é transmitida até no sexo oral. Como vencer a doença?

Crédito: iStock
No ano passado a Organização Mundial da Saúde estima que tenham ocorrido quase 100 milhões de casos de gonorreia em todo o mundo. Isso faz com que essa seja a segunda infecção sexualmente transmissível (IST) mais frequente do planeta.
Sua bactéria causadora, a Neisseria gonorrhoeae, já é conhecida pelos seres humanos há muitos séculos, mas, de alguns anos para cá, passou a ser um dos maiores motivos de preocupação da comunidade científica internacional devido à sua capacidade de desenvolver resistência aos antibióticos que anteriormente eram usados com sucesso para seu tratamento.
Depois de um primeiro momento de alarmismo e desespero, muitas vezes noticiado na imprensa utilizando o termo sensacionalista "super-gonorreia", as boas notícias começam a chegar como resultado da mobilização organizada de pesquisadores, centros de pesquisa e órgãos governamentais. Novas ferramentas promissoras para tratamento e prevenção já se encontram em fase de pesquisa e deverão estar disponíveis nos próximos anos.
Um exemplo é o estudo realizado na Nova Zelândia que pretendia testar uma vacina contra Neisseria meningitidis, bactéria causadora da meningite meningocócica. Nele, descobriu-se de maneira inesperada que a vacinação reduzia em 30% as infecções por gonorreia. Os cientistas acreditam que esse resultado pode ter ocorrido pelo fato de as duas bactérias serem "parentes" e terem proteínas semelhantes.
Sabendo disso, recentemente pesquisadores de Oregon, nos EUA, trataram de mapear todas as proteínas dessas bactérias e encontraram mais de mil candidatas para o desenvolvimento de novas vacinas para uso na prevenção da IST.
Além disso, um estudo publicado essa semana demonstrou que uma nova droga chamada Zoliflodacina foi eficaz para tratamento de gonorreia. E a boa notícia é que esse antibiótico continua funcionando tanto para as cepas de N. gonorrhoeae que tinham se tornado resistentes aos antibióticos atuais – a "supergonorreia" – quanto para as bactérias mais comuns causadoras de ISTs (Chlamydia trachomatis e Mycoplasma genitalium).
A primeira coisa que precisamos compreender sobre esse assunto é que não é o sexo, muito menos o sexo sem camisinha, que provoca o desenvolvimento de resistência aos antibióticos na gonorreia. Isso é decorrente de complexos mecanismos de defesa da bactéria que são potencializados pelo uso inadequado desses medicamentos.
Quando uma bactéria é tratada com o antibiótico certo, na dose certa e pelo tempo certo, ela morre sem se tornar resistente. Por outro lado, o uso errado desses medicamentos ajudará na seleção e crescimento das resistentes.
A culpa da resistência da gonorreia aos antibióticos é muito mais de quem os prescreve do que dos que se infectam com a bactéria.
Outro ponto importante para se compreender o controle dessa IST é que ela é transmitida com muita facilidade entre as pessoas, mesmo quando a camisinha é usada na penetração vaginal ou anal. O sexo oral desprotegido então é uma das principais vias de disseminação da bactéria.
Por fim, é importante saber que uma pessoa pode ser portadora da gonorreia e transmiti-la para seus parceiros, sem ter absolutamente nenhum sintoma, o que torna o seu controle ainda mais complicado.
Compreendido então que a questão da gonorreia é bem mais complexa do que parece e vai muito além de um simples "use camisinha", a proposta atual de enfrentamento dessa epidemia é usar o preservativo o máximo que conseguir. Mas também criar a rotina de rastreamento periódico para essa bactéria, realizando o tratamento correto quando for feito o diagnóstico.
Só assim, com o uso inteligente das novas ferramentas que se encontram em desenvolvimento, poderemos atingir o controle da disseminação da gonorreia sem que elas se tornem rapidamente obsoletas em decorrência da resistência bacteriana.
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