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Rico Vasconcelos

Precisamos falar sobre HIV

Rico Vasconcelos

07/12/2018 04h00

Crédito: iStock

Falar sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) não é algo que em geral as pessoas se sentem à vontade ou mesmo gostam de fazer. Talvez por seu caráter transmissível ou por se relacionar com a sexualidade, o tema paralisa muita gente. E paralisado ninguém é capaz de enfrentar nada. Veja aqui algumas iniciativas que têm procurado mudar essa reação com o assunto.

De todas as ISTs, o HIV é a que agrega o maior estigma e bloqueio na discussão. Assim, um dos motivos para estarmos chegando na quarta década de epidemia de HIV ainda registrando altos números de novas infecções e de mortes em decorrência da Aids, é a preferência das pessoas por não falar sobre isso.

Com o objetivo de tentar mudar esse cenário, além das campanhas do Ministério da Saúde, várias outras iniciativas foram criadas nos últimos anos com o objetivo de tornar o assunto natural como deve ser, promovendo educação sobre saúde sexual, sem preconceitos nem moralismo.

Na última semana, o lançamento de dois projetos chamou a atenção e merece destaque. O primeiro é a plataforma Deu positivo, e agora?, do Programa Conjunto das Nações Unidas Sobre HIV/Aids (UNAIDS). Nela, você pode encontrar alguns dos mais importantes comunicadores da temática HIV/Aids da atualidade falando, abertamente e com linguagem acessível, sobre os tópicos do HIV/Aids que mais causam dúvidas e ansiedade na população brasileira.

A assessoria do UNAIDS é o selo de qualidade técnica e científica de tudo o que está sendo apresentado na plataforma.

O outro destaque da semana é o lançamento do trailer do documentário Carta Para Além dos Muros, dirigido por André Canto. Através dos depoimentos de pessoas envolvidas diretamente na história do HIV/Aids no Brasil, entre ativistas, especialistas, representantes do governo e da sociedade civil, o filme revisita e conta com detalhes toda a trajetória da epidemia de HIV/Aids no Brasil, desde o seu início na década de 80 até a atualidade. A estreia do filme será em abril/2019.

Para quem não sabe, Cartas Para Além dos Muros foi uma sequência de poemas escritos pelo renomado poeta Caio Fernando Abreu, publicados em sua coluna no jornal Estado de São Paulo em 1994. Nesse ano, época em que não havia ainda um tratamento eficaz para o vírus, o autor já se encontrava com Aids em estágio avançado da doença.

De 1994 até 2018 muitas coisas mudaram para melhor em relação ao HIV/Aids. Mas outras não mudaram nada. Visite os links sugeridos, fale sobre HIV, promova mudanças nos seus círculos de amizade e seja bem-vindo a 2018.

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Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.