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Rico Vasconcelos

Um balanço da PrEP no Brasil no final de 2018

Rico Vasconcelos

14/12/2018 04h00

Crédito: iStock

Neste Dezembro Vermelho, mês de conscientização sobre a prevenção e o tratamento do HIV, completamos o primeiro ano de oferecimento da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) como política pública de saúde no Brasil. Veja aqui um balanço de onde estamos e para onde pretendemos ir na incorporação dessa estratégia de prevenção e no controle da epidemia de HIV no Brasil.

Em 2015 a PrEP passou a ser recomendada pela Organização Mundial da Saúde como ferramenta adicional de prevenção contra o HIV, indicada para pessoas que vivem situações de maior vulnerabilidade para essa infecção. Apenas 2 anos depois, como resultado do empenho do Ministério da Saúde, o Brasil foi um dos primeiros países de renda média em todo o mundo a iniciar sua distribuição gratuita, com o investimento realizado cabendo dentro do orçamento destinado à saúde e com a comprovação científica da custo-efetividade dessa medida.

De acordo com estimativa da ONG Internacional AVAC, atualmente cerca de 380.000 pessoas no mundo usam PrEP, sendo que 250.000 delas estão nos Estados Unidos. No Brasil, segundo dados oficiais divulgados num encontro anual sobre a implementação da PrEP realizado em Salvador, Bahia, no início dessa semana, cerca de 7.800 pessoas já estão usando PrEP gratuitamente, entre aqueles que a acessam pelo SUS e por projetos de pesquisa.

A enorme diferença entre os números dos dois países pode ser explicada pelo início anterior, em 2012, da recomendação norte-americana da PrEP. Por outro lado, lá não existe um sistema público de atendimento nem de distribuição dos comprimidos da PrEP, exigindo na maior parte das vezes que os interessados nessa prevenção desembolsem mensalmente altas quantias de dólares.

Entre os usuários brasileiros de PrEP, mais de 80% são gays e bissexuais, 43% têm menos de 30 anos de idade e 76% têm 12 anos ou mais de estudo. Isso mostra que ainda temos muita gente vulnerável ao HIV distante da PrEP.

Depois de 3 meses do início da PrEP, 75% dos usuários referiam não ter esquecido de tomar nenhum comprimido e apenas 16% ainda tinham algum efeito colateral relacionado com a PrEP.

Ainda é cedo para se associar qualquer redução no número de novos casos registrados no Brasil de infeções por HIV à implementação da PrEP, como a queda de 17% divulgada essa semana no Reino Unido somente no último ano.

Para que isso aconteça aqui, será necessário além de avançar na etapa atual de ampliação do número de indivíduos acessando a PrEP, melhorar a cobertura de testagem e tratamento das pessoas que já vivem com HIV.

Atualmente temos 72 serviços atendendo PrEP em todo país e mais 115 em fase de capacitação para iniciar esse atendimento. A lista atualizada dos serviços pode ser acessada através do site www.aids.gov.br/PrEP.

Temos também no Brasil, além da PrEP com comprimidos diários, a PrEP Injetável de Longa Duração sendo estudada, ainda recrutando interessados em participar em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

A PrEP chegou ao Brasil, mas para que ela cumpra seu objetivo no auxílio ao controle da epidemia de HIV ainda precisa ser expandida. Esse é um passo que depende tanto do comprometimento do governo eleito quanto de toda a população brasileira.

Nesse sentido, é importante a cobrança da Secretaria da Saúde da sua localidade a capacitação de um centro regional de atendimento de PrEP.

Se informe sobre PrEP. Fale sobre PrEP. Exija PrEP na sua região. Ela já está disponível no SUS.

Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.