Use o seu celular para se prevenir do HIV

Crédito: iStock
Os smartphones causaram uma revolução neste planeta durante a última década. Por facilitarem a comunicação entre as pessoas, pouco a pouco reinventaram tudo aquilo que existe na humanidade. Relacionamentos, eleições, crimes ou finanças, tudo mudou. Nem mesmo a saúde escapou desse fenômeno.
O setor de tecnologia da informação que faz a interface com o cuidado da saúde, chamado mHealth –de mobile Health, que pode ser traduzido como Saúde Móvel – é um dos que mais tem se desenvolvido nos últimos anos. Para entender o que estou falando, basta lembrar do número de apps para quem deseja ter uma atividade física regular ou dos relógios de pulso que registram passos, distância e batimentos cardíacos.
Até na prevenção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) isso se tornou uma realidade, e nos EUA já existe, por exemplo, uma empresa que oferece todo o serviço de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) pelo celular.
Com o app, o usuário realiza desde a primeira conversa com o médico, para tirar suas dúvidas sobre a estratégia de prevenção, até as consultas de retorno com todo o aconselhamento necessário. Os comprimidos são entregues onde o usuário escolher e uma consulta presencial é orientada só quando for necessária.
Os exames são feitos em casa, por meio de kits de autocoleta, que são entregues e enviados de volta por correio. Ou então em uma rede de laboratórios conveniados que processam as análises e enviam os resultados para os médicos do app.
O objetivo de uma abordagem virtual como essa é a ampliação do acesso à saúde e não a substituição do modelo tradicional de assistência. É fazer a PrEP chegar onde não estava chegando antes. Frequentemente os serviços de saúde não acolhem o usuário como deveria. E além disso, encarar um profissional da saúde e falar abertamente de sua vida sexual e vulnerabilidades pode não ser algo fácil para todo mundo.
O potencial inclusivo desse modelo de assistência já está sendo estudado. No estudo PrEPTECH, publicado no início do mês no Journal of Acquired Immune Deficiency Syndrome, jovens negros gays e bissexuais de San Francisco, nos EUA, foram convidados para entrar num programa virtual e gratuito de PrEP, como o descrito acima. Ao fim de 180 dias de acompanhamento, 85% dos participantes consideraram essa a melhor maneira de se receber PrEP e 100% deles acharam o serviço rápido e conveniente. Não houve nenhum caso de infecção por HIV registrado.
Para quem não sabe, jovens negros gays e bissexuais são o grupo populacional mais vulnerável à infecção por HIV nos EUA. Estima-se que cerca de 50% deles, ao longo das suas vidas, vão se infectar com o vírus. E, não coincidentemente, são os que menos acessam a PrEP. A exclusão social os torna vítimas duplamente.
No Brasil vemos algo muito parecido acontecendo com a população trans, que apresenta as maiores prevalências de infecção por HIV e as menores porcentagens de busca por PrEP.
Estigma e discriminação são causas da exclusão social que afasta milhares de pessoas em todo o mundo da cidadania plena, vulnerabilizando-as ao HIV e outros desfechos indesejados. Por esse e outros motivos, o dia 29 de janeiro é o Dia da Visibilidade Trans.
A tecnologia não tem preconceitos e está mostrando que pode ajudar no acesso às ferramentas, como a PrEP, capazes de proteger do HIV. Enquanto isso, a humanidade vai evoluindo mais lenta que a internet, aos poucos entendendo o mal que a sua discriminação causa na vida das pessoas.
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