Trump anuncia que vai eliminar o HIV até 2030, mas não convence ninguém

Crédito: Kevin Lamarque/Reuters
No último dia 5 de fevereiro, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou um plano ambicioso de controlar a epidemia de HIV no seu país até 2030, mas a comunidade científica e os ativistas da luta contra o HIV/Aids receberam a notícia de maneira desconfiada.
O plano vem embalado pelo ânimo com os bons resultados obtidos pelas localidades que expandiram de maneira significativa o acesso às novas tecnologias e estratégias de prevenção, como a testagem rotineira para o HIV, a PEP, a PrEP e o tratamento antirretroviral para todos aqueles diagnosticados com o vírus.
Um exemplo desse sucesso é a cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, que conseguiu, somente entre 2013 e 2017, reduzir o número de novos casos da infecção em 36% usando essas medidas.
De fato, a ciência já sabe como eliminar o HIV. Em dezembro de 2013, logo após o mundo conhecer os resultados dos primeiros estudos que demonstraram que, quando tratada adequadamente, uma pessoa que vive com HIV não apresenta risco de transmissão do seu vírus por via sexual, o UNAIDS – programa da ONU para o enfrentamento do HIV/Aids – propôs ao mundo a meta 90-90-90.
Nessa meta, até 2020, 90% das pessoas vivendo com HIV precisariam ter sido diagnosticadas, 90% dessas deveriam estar em terapia antirretroviral e 90% delas estar com a sua carga viral indetectável, marcador laboratorial de sucesso do tratamento.
Se a meta fosse atingida, os cálculos estatísticos e epidemiológicos indicavam que, em 2030, teríamos zerado os novos casos dessa infecção e, portanto, controlado a epidemia de HIV. Além disso, a associação do Tratamento como Prevenção, nome dado a essa estratégia, ao uso da PrEP e PEP potencializa as chances de sucesso.
Em 2019, faltando apenas um ano para o fim do prazo proposto pelo UNAIDS, temos no mundo 75% das pessoas vivendo com HIV sabendo do seu diagnóstico, 80% delas em tratamento e apenas 78% dessas com carga viral indetectável. Por causa disso, somente em 2017 foram registrados 1.8 milhões de novos casos de infecção por HIV em todo mundo.
O que causou esse fracasso? Principalmente a falta de comprometimento político e de investimento na área.
A desconfiança que paira sobre o plano do presidente norte-americano existe, primeiro porque para atingir sua meta, serão necessários muito mais recursos do que os atualmente investidos. Mas também porque, mais do que dinheiro e antirretrovirais, é necessário desenvolver toda uma agenda de inclusão social e luta contra o estigma das populações mais vulnerabilizadas à epidemia.
Nesses pontos, o governo de Trump está avançando na contramão. Nos últimos anos cortou recursos para o HIV, desmontou o já restrito e enfraquecido sistema público de saúde norte-americano, e agiu de modo a aumentar a discriminação de minorias, como os LGBTs.
Nova Iorque, assim como San Francisco e Sydney, está tendo sucesso até agora no controle do HIV porque entendeu a importância e não deixou de cumprir nenhuma dessas etapas.
No Brasil, segundo o último Relatório de Monitoramento Clínico do HIV do Ministério da Saúde, temos 84% das pessoas que vivem com HIV sabendo do seu diagnóstico, 75% delas em terapia antirretroviral e quase 92% daqueles em tratamento com carga viral indetectável.
Não estamos tão mal, porém com a pauta conservadora que pretende ser introduzida no congresso nacional, e sem a ampliação necessária de investimentos, seremos certamente reprovados em 2020 nas metas exigidas pela ONU.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.