O segundo erro do governo Bolsonaro na luta contra o HIV
Na última sexta-feira foi publicada no Diário Oficial da União a nova organização dos departamentos e coordenações do Ministério da Saúde. Elas causaram ainda mais preocupação com os passos do atual governo na área da saúde entre todos aqueles que, de alguma forma, se relacionam com o tema HIV. E deveriam também preocupar toda a população brasileira.
As mudanças no Departamento de HIV/Aids são mais um dos erros que a gestão atual do Ministério da Saúde tem cometido desde a sua posse.
A partir de agora, o órgão responsável pelo enfrentamento da epidemia de HIV/Aids, desde a sua prevenção até o tratamento, foi reduzido de um departamento para uma coordenadoria. E passa então a dividir funções e orçamento com pastas de temas completamente desconectados. Um exemplo disso são as chamadas "Doenças em Eliminação" alocadas, na nova estrutura, sob o mesmo departamento que o HIV.
A quais doenças se refere o termo "em eliminação", não é definido no texto, mas uma interpretação possível seriam as verminoses e doenças transmitidas pela falta de saneamento básico.
A eliminação real que vejo é a do protagonismo do Departamento de HIV/Aids, criado em 1986 e colecionador de prêmios, elogios e marcos na história da epidemia mundial de HIV, como o oferecimento gratuito do tratamento antirretroviral, PEP e PrEP.
Departamento esse que, antes de ser agora esvaziado, no ano de 2018 anunciou como resultado de suas ações a redução histórica de 15,8% em apenas 3 anos na mortalidade por Aids no Brasil.
Ao diminuir a importância da resposta brasileira à epidemia de HIV/Aids, o governo caminha na contramão das tendências mundiais e expõe o seu total desconhecimento sobre o assunto.
Isso fica ainda mais gritante se o argumento da nova organização for a economia de recursos, uma vez que a Aids é ainda uma das principais causas de mortes, todos os anos, entre adultos jovens, segundo o último relatório da Organização Pan-Americana de Saúde. Adultos estes que poderiam ter seguido suas vidas com saúde e produtivas para o país, se tivessem recebido a atenção necessária para a infecção por HIV.
O enfrentamento da epidemia de HIV é complexo e envolve mais do que ciência e financiamento. Ele requer comprometimento e sensibilidade na formulação das políticas públicas de saúde, levando em conta o impacto que têm todos os tipos de discriminação e exclusão social.
Aliás, as ferramentas técnicas para que mais ninguém se infecte ou morra por HIV já existem. E a persistência no registro desses números fala muito mais sobre o descaso dos governantes do que da falha da medicina.
Simplificar, reduzir e ignorar o HIV/Aids é um erro que pode devastar gerações. Não podemos tratar HIV como se fosse uma verminose. No Brasil, estávamos caminhando na direção certa. E precisamos voltar para lá antes que seja tarde.
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