Ducha anal pode aumentar o risco de transmissão de HIV e outras ISTs

Crédito: iStock
Entre os praticantes de sexo anal, em todo o mundo, o uso da ducha anal antes ou depois da relação sexual é uma prática bastante difundida. No Brasil, por exemplo, ela é reportada por 53% dos praticantes de sexo anal, segundo pesquisa recente. Entre os motivos para seu uso, seus praticantes citam a higiene durante o coito e a redução de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Mas será que o uso da ducha anal de fato diminui as chances da transmissão de ISTs?
Até hoje, as pesquisas científicas publicadas sobre o tema tinham resultados discrepantes. Enquanto uma parte desses trabalhos mostrou que o uso da ducha não interfere na transmissão de agentes microbianos por via sexual, os demais evidenciaram que a prática poderia tanto aumentar quanto diminuir o risco de isso ocorrer.
O único trabalho brasileiro a investigar isso é de 2017. Nele, 369 homens gays/bissexuais e mulheres transexuais foram avaliados e não foram encontradas maiores prevalências de HIV ou outras ISTs entre os adeptos da ducha anal.
Uma das possibilidades utilizadas para responder às perguntas científicas quando as diferentes pesquisas encontram resultados conflituosos é a elaboração de uma metanálise. Numa metanálise, ao invés de olharmos para os trabalhos e seus resultados individualmente, juntamos todos eles e analisamos como se fossem um único estudo, obtendo assim um número muito maior de participantes incluídos na análise e aumentando o poder de resposta da questão.
Nas últimas semanas, um grupo de pesquisadores publicou a primeira metanálise realizada até hoje sobre duchas anais. Na sua análise foram incluídos 20.398 participantes de 28 estudos e os resultados encontrados mostram que o uso de duchas anais está associado a maior prevalência tanto de HIV quanto das demais ISTs bacterianas e virais.
A chance de encontrar uma IST entre os praticantes da ducha anal foi mais do que 2 vezes maior do que entre os não praticantes, mesmo depois de retirada a influência de fatores de confusão, como por exemplo o número de parcerias sexuais.
Isso significa que o uso de duchas anais pode estar facilitando a transmissão desses agentes. Uma das hipóteses levantadas pelos autores é a de que a prática pode lesionar a mucosa retal, dependendo do líquido utilizado, predispondo com isso à entrada dos agentes causadores das ISTs. A outra é a de que os instrumentos utilizados na ducha poderiam estar contaminados e o seu compartilhamento proporcionaria a transmissão de ISTs aos seus usuários.
Se por um lado, de acordo com essa metanálise, as duchas anais começam a ser consideradas prejudiciais à saúde, já existem em andamento pesquisas que as utilizam como via de administração da PrEP. Para isso, soluções com antirretrovirais são utilizadas na ducha anal, recobrindo a mucosa com o medicamento protetor contra o HIV.
Os resultados desses estudos são ainda aguardados, mas o interesse da ciência e dos pesquisadores por práticas sexuais amplamente difundidas entre as populações mais vulnerabilizadas à epidemia de HIV e outras ISTs, sem que haja julgamento ou condenação das mesmas, é um caminho promissor para a obtenção de um controle definitivo da sua disseminação.
A questão das duchas anais ainda é um tema aberto e em investigação mas, enquanto mais estudos não são publicados, desde já uma boa recomendação é o não compartilhamento dos instrumentos utilizados na sua prática e manter sempre em dia a sua rotina de testagem para as ISTs.
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