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Rico Vasconcelos

São Paulo será destaque em documentário inglês sobre a luta contra o HIV

Rico Vasconcelos

14/06/2019 04h00

Crédito: Istock

Na próxima semana, uma equipe de cinegrafistas ingleses desembarca em São Paulo para a gravação de um documentário que tem como tema as estratégias que diferentes cidades do mundo têm desenvolvido para enfrentar a epidemia de HIV/Aids.

Quem lidera a produção do documentário é a IAPAC – International Association of Providers of Aids Care – que poderia ser traduzido como a Associação Internacional de Cuidadores de Pacientes com Aids. Essa associação, desde a sua fundação em 1987, trabalha dando suporte a profissionais da saúde, órgãos governamentais e não-governamentais, corporações e associações comunitárias, na elaboração de ações de controle da epidemia de HIV/Aids em todo o mundo.

O documentário é uma das atividades do projeto Fast Track Cities (Cidades com Avanços Rápidos, numa tradução livre), um convênio que conta com a parceria da IAPAC, com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids (UNAIDS) e a Prefeitura de Paris.

O Fast Track Cities foi lançado no dia 1º de dezembro de 2014 na capital francesa, com o argumento de que as grandes cidades do mundo, por oferecerem oportunidades e tolerância, atraem grande número de pessoas vulnerabilizadas por conta de diferentes formas de exclusão social. Quem já não ouviu que é mais fácil, por exemplo, ser LGBT na capital do que no interior?

Uma vez que as doenças transmissíveis costumam se disseminar pelos círculos de exclusão, as grandes cidades se tornaram o principal cenário da epidemia de HIV/Aids no mundo, concentrando a maior parte dos seus casos. A cidade de São Paulo, por exemplo, sozinha registrou 7% dos novos casos da infecção do país inteiro no ano passado.

Segundo a iniciativa do Fast Track Cities, ao estimular ações com foco nessas cidades é possível impactar positivamente no controle efetivo da disseminação do vírus e na redução das mortes por Aids de todo o país. Foi criada então a Declaração de Paris, com uma série de compromissos que devem ser assumidos pelos prefeitos dessas cidades, com o objetivo de alcançar o fim da epidemia de HIV.

Entre as metas que as cidades devem atingir estão o aumento da cobertura de testagem e tratamento antirretroviral (Metas 90-90-90), a ampliação do acesso às estratégias de Prevenção Combinada, o combate ao estigma e discriminação, e a garantia do monitoramento de todos os avanços rumo a essas metas.

Desde 2014, muitas cidades se comprometeram com as metas do Fast Track Cities em todos os continentes do planeta. Mas, para o atual documentário, além de São Paulo, apenas outras 5 cidades foram escolhidas para serem retratadas: Londres (Inglaterra), Nairóbi (Quênia), Bangkok (Tailândia), Atlanta (EUA) e Kiev (Ucrânia).

São Paulo é uma Fast Track City desde o início do projeto. A Declaração de Paris foi assinada pelo então prefeito Fernando Haddad, e desde então tem servido de exemplo para o resto do Brasil no enfrentamento da epidemia de HIV/Aids. Para se ter uma ideia, somente na capital paulista foram prescritas mais de 13.000 Profilaxias Pós-Exposição (PEP) e mais de 4.000 Profilaxias Pré-Exposição (PrEP) contra o HIV em 2018.

O documentário da IAPAC, no entanto, não pretende mostrar São Paulo como um lugar perfeito no controle do HIV/Aids. Sabemos que ainda temos aqui uma longa caminhada pela frente, repleta de questões complexas para resolver, como é o caso da desigualdade racial, de gênero, a LGBTfobia e o acesso precário à saúde nas regiões periféricas da cidade.

Mas em São Paulo, com o engajamento governamental e da comunidade, o cenário está se transformando (e rapidamente) pra melhor, quando comparamos com as demais cidades do mundo. Não fique pra trás e faça parte dessa transformação.

 

Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.