Nova pesquisa analisa como os brasileiros se protegem do HIV
Na última década, o desenvolvimento de novas tecnologias para o diagnóstico e a prevenção do HIV aumentaram as esperanças de que o controle dessa epidemia era uma missão possível.
No entanto, o impacto que intervenções como a PrEP, PEP ou autotestagem para HIV vão ter nesse processo poderá variar bastante, dependendo fundamentalmente do quão difundido na população está o seu conhecimento e utilização.
Pode parecer óbvio, mas um método de prevenção não cumpre sua função só por existir. Para isso é preciso que ele seja divulgado e usado com boa adesão.
Com o objetivo de avaliar esses dois aspectos na população brasileira, uma pesquisa foi realizada durante o último mês de março e teve seus resultados divulgados essa semana. Ao todo, 2.035 pessoas maiores de 15 anos de idade em todo o Brasil responderam voluntariamente a um questionário online abordando seus conhecimentos e práticas sobre prevenção e diagnóstico de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A amostra avaliada conseguiu representar de forma fiel o universo da população brasileira em relação à sua distribuição geográfica nas 5 regiões do país (47% na região Sudeste e 71% em regiões metropolitanas), e na proporção entre pessoas heterossexuais cisgênero (84%) e LGBTs (10%).
Logo de início, os resultados da pesquisa chamam a atenção no que diz respeito ao bom cuidado com a própria saúde dos entrevistados, que em 73% das respostas referiram ter ido a uma consulta com dentista e em 75% com um médico, no ano anterior. Acredita-se que esse resultado pode ter sido influenciado pela forma de recrutamento digital utilizado, que, por incluir indivíduos com acesso à internet, tende a priorizar os mais escolarizados e de melhor nível socioeconômico.
Apesar disso, apenas 44% dos respondentes tinham feito algum exame para rastreamento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) no período. E metade dos 56% que não tinham feito, referiu que havia tido mais do que uma parceria sexual neste ano.
Em relação ao uso do preservativo nas relações sexuais, as opções uso sempre, uso às vezes e não uso nunca foram as respondidas por 48%, 23% e 29% dos entrevistados, respectivamente. Considerando-se apenas aqueles com mais de uma parceria sexual no último ano, a proporção de nunca cai para 9%, enquanto a de às vezes aumenta para 28%.
Assim como em praticamente todas as pesquisas anteriores sobre prevenção, o preservativo externo (masculino) foi o método mais conhecido (89% dos entrevistados), seguido do preservativo interno (79%), abstinência sexual (41%) e o Indetectável = Intransmissível (38%). PEP e PrEP só eram conhecidas por 16 e 13% dos respondentes, respectivamente, números que sobem para 30 e 27% entre os LGBTs.
O conhecimento sobre a camisinha se traduz em utilização. Ela foi única forma de prevenção que já tinha sido usada por uma parcela grande dos entrevistados (78%), com queda das frequências a valores muito mais baixos quando se trata de PEP (2%) ou PrEP (2%).
Em relação à testagem para o HIV, 46% dos respondentes nunca haviam se testado na vida, e 86% apontaram que vergonha é um dos motivos para que as pessoas não se testem. Apenas 9% disseram que realizavam esse teste rotineiramente e apenas cerca de 15% conheciam a existência do autoteste de HIV.
Mesmo com as respostas apresentadas acima apontando risco significativo de aquisição de uma IST para uma parcela da amostra avaliada, 66% dos entrevistados responderam que não consideravam ter nenhuma chance de virem a se infectar com HIV no próximo ano.
A última pesquisa do tipo que havia sido realizada no Brasil foi a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas do Ministério da Saúde, em 2013. Naquele ano ainda não tínhamos disponíveis elementos como PrEP ou autotestagem, mas o uso consistente da camisinha no ano anterior à pesquisa já tinha um alcance limitado na população (54% dos entrevistados).
Os resultados das pesquisas nos mostram que uma parte da população brasileira não tem percepção adequada dos riscos que correm de se infectarem e nem mesmo conhecimento completo das formas disponíveis de prevenção e diagnóstico de HIV e outras ISTs.
O resultado disso são os números ainda crescentes dessas epidemias no Brasil. Pesquisas como essas, no entanto, são extremamente úteis para o planejamento das intervenções de saúde pública necessárias para mudar essa tendência.
Já temos as ferramentas necessárias para conter a epidemia de HIV e sabemos aonde estamos falhando para que elas atinjam seu objetivo. Resta apenas interesse em corrigir essas falhas.
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