Novo estudo avaliará o uso da PrEP injetável em adolescentes
Os jovens de hoje são o futuro do Brasil. Mas também têm sido motivo de preocupação das autoridades de saúde pública, pois é entre eles que o número de novos casos de infecção por HIV mais aumentou na última década. Por isso, adultos jovens e adolescentes se tornaram um grupo prioritário e de especial interesse para os projetos de pesquisa de prevenção de HIV.
Segundo a última atualização do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), 1,7 milhão de pessoas se infectaram com HIV em 2019, o equivalente a 4.500 novas infecções por dia, sendo que 31% delas ocorreram entre pessoas com menos de 24 anos de idade.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, a taxa de detecção de casos de Aids aumentou nos últimos dez anos em 62% entre homens com idade entre 15 a 19 anos e em 95% entre os de 20 a 24 anos.
Esse cenário se torna ainda mais complicado, pois o impacto do uso de novas e potentes estratégias de prevenção, como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), já se mostrou limitado em estudos com pessoas mais jovens. O problema aqui está principalmente na dificuldade encontrada para manter os jovens retidos ao seguimento proposto e com boa adesão aos comprimidos da PrEP, elemento fundamental para a garantia da eficácia protetora.
Recentemente, os dados do estudo HPTN 083 demonstraram que a PrEP Injetável de Longa Duração, que utiliza o antirretroviral Cabotegravir administrado por via intramuscular a cada 2 meses, foi bem tolerada pelos participantes incluídos e se mostrou ainda mais eficiente na prevenção contra o HIV do que a PrEP com comprimidos diários.
Uma das hipóteses para explicar a superioridade encontrada da PrEP Injetável é a não exigência de um comprometimento diário de adesão aos medicamentos, sendo necessárias apenas as aplicações bimestrais para se manter o nível protetor de antirretroviral no corpo dos indivíduos.
Uma estratégia de prevenção com essas características é especialmente atraente para a população de adolescentes e adultos jovens. Por isso, foi idealizado o HPTN 083-01, um estudo que pretende avaliar a segurança e a aceitação da implementação da PrEP Injetável entre rapazes gays e meninas transexuais menores de 18 anos de idade.
O estudo pretende incluir 50 participantes em 3 cidades dos Estados Unidos (Boston, Chicago e Memphis), com a proposta de acompanhá-los por cerca de 20 meses.
Além do HPTN 083-01, já existe em fase de elaboração um estudo com desenho bastante semelhante chamado LIFT, direcionado para o público feminino cisgênero de meninas e adolescentes com menos de 18 anos na África do Sul, Uganda e Zimbábue.
O interesse científico em investigar o uso dessas estratégias em populações mais jovens é de extrema importância, pois poderá acelerar o processo de liberação do uso da PrEP Injetável em adolescentes pelas agências regulatórias, o que poderia mudar a tendência de juvenilização da epidemia de HIV no mundo. Para se ter uma ideia, a PrEP com comprimidos diários oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) até hoje é liberada apenas para pessoas maiores de 18 anos.
Para tentar mudar essa restrição, existe em andamento, nas cidades de São Paulo, Salvador e Belo Horizonte, o PrEP1519, um projeto de pesquisa que está avaliando a implementação de um programa de prevenção combinada direcionada para adolescentes vulneráveis. Os interessados podem encontrar mais informações no www.PrEP1519.org .
Cuidar da saúde dos mais jovens é cuidar do futuro do Brasil. E quando falo em cuidar, me refiro a algo muito mais amplo que oferecer PrEP e prevenir neles as infecções por HIV. É preciso garantir para eles saúde sexual, naturalizando e estimulando o debate aberto sobre sexualidade, para assim capacitá-los para se engajarem em comportamentos sexuais mais saudáveis.
Silenciar essa discussão ou proibir a sexualidade dos mais jovens apenas contribuirá com o aumento dos casos de HIV e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) no Brasil.
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