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Vacina de Hepatite A é liberada para gays e trans na semana do orgulho LGBT

Rico Vasconcelos

01/06/2018 04h00

Crédito: iStock

Na Semana do Orgulho LGBT, a Secretaria da Saúde do Município de São Paulo anuncia que, a partir de agora, a vacinação contra o vírus da Hepatite A passará a ser fornecida na capital, gratuitamente pelo SUS, também para homens gays, bissexuais e que fazem sexo com outros homens, e para mulheres transexuais e travestis.

Atualmente, no Brasil, recebiam gratuitamente essa vacina somente crianças de até 5 anos de idade e adultos em situações especiais, como aqueles submetidos a algum transplante, vivendo com HIV, portadores de hepatites virais crônicas e de algumas doenças crônicas.

Essa é a primeira vez que a orientação sexual e/ou a identidade de gênero de uma pessoa são usadas como critério para uma campanha de vacinação, e mostra avanço nas políticas públicas de prevenção da capital paulista.

A Hepatite A é transmitida, sempre de uma pessoa para outra, através de vírus que são eliminados nas fezes da pessoa doente e ingeridos pela susceptível. Dessa maneira, o saneamento básico, com tratamento de água e esgotos, teve importante papel na redução de casos da doença nas últimas décadas. Entretanto, o vírus pode ser transmitido também por via sexual, principalmente no contexto da prática do sexo anal e oro-anal.

Desde o ano de 2016, 22 países europeus, os Estados Unidos, o Chile e o Brasil passaram a identificar um surto, caracterizado pelo aumento de casos de Hepatite A entre homens gays e jovens. Só no município de São Paulo, no ano de 2017, foram notificados 786 casos da doença, dos quais 88% ocorreram em homens, levando 2 indivíduos a óbito. Até agora, no ano de 2018, já foram identificados mais 301 casos novos na capital, por enquanto sem óbitos.

A Hepatite A na maior parte das vezes é autolimitada, não precisando de nenhuma intervenção terapêutica, além de sintomáticos. Pode causar náuseas, dor de barriga, amarelamento da pele e dos olhos e escurecimento da urina. E os sintomas costumam se resolver dentro de algumas semanas a meses. Em poucos casos mais graves apenas, o vírus provoca uma hepatite fulminante, podendo levar o indivíduo ao transplante de fígado e até a morte.

Para a prevenção da transmissão sexual da Hepatite A, a estratégia mais eficaz é a vacinação, uma vez que o uso da camisinha é ineficaz na prevenção dessa doença. O esquema vacinal é feito em adultos com duas doses separadas por um intervalo de 6 meses. Duas doses da vacina conferem proteção por toda a vida contra a doença.

Em São Paulo, as vacinas serão oferecidas nos endereços informados pela Secretaria da Saúde nesse link.

Aqueles que tiverem vacinas faltando em sua carteirinha, como as de Hepatite B, HPV ou tétano, podem aproveitar e resolver suas pendências, seguindo os critérios de indicação de cada uma delas.

Fique esperto! Vacinação atualizada também é Prevenção Combinada contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

Parabéns à população de São Paulo e boa semana do orgulho LGBT!

 

 

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Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.