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Novo tratamento do HIV mais simples e eficaz é aprovado nos EUA

Rico Vasconcelos

12/04/2019 04h03

Crédito: iStock

Quando se fala de HIV/Aids, não há monotonia. As coisas estão sempre mudando. Nessa semana um dos pilares do tratamento do HIV foi modificado.

Na última segunda-feira, o FDA, agência que regula o uso de medicamentos nos Estados Unidos, aprovou um novo esquema antirretroviral simplificado e igualmente eficaz para tratamento de pessoas com HIV virgens de tratamento.

No início dessa epidemia, lá nas décadas de 80 e 90, ter HIV era sinônimo de ter Aids. Era se resignar e esperar a morte chegar, uma vez que não havia um tratamento eficaz disponível. Mas, a partir de 1996 tudo mudou. A ciência conseguiu mostrar que o segredo para o sucesso no tratamento do HIV era a associação de diferentes medicamentos, ao invés de usá-los separadamente.

O número mágico era 3. Quando três antirretrovirais passaram a ser dados em associação para a uma pessoa que vivia com HIV, ele desaparecia, se tornava indetectável no sangue, permitindo assim a recuperação da saúde do indivíduo, que podia enfim voltar a viver sua vida.

Quando três antirretrovirais foram prescritos juntos, a Aids foi vencida.

De 1996 até hoje essa foi a receita que a medicina usou para tratar as pessoas diagnosticadas com o HIV. Com ela, feitos marcantes foram alcançados, como por exemplo a redução dramática do número de mortes por Aids em todo mundo e a possibilidade da gestação e parto por uma mulher que vive com HIV sem qualquer risco de transmissão para o bebê.

No entanto, os medicamentos utilizados nessa trinca mudaram ao longo desses 20 anos, se tornando mais fáceis de serem tomados, com menos comprimidos, raros efeitos colaterais, e cada vez mais potentes contra o HIV.

Essa potência antirretroviral melhorou tanto que há alguns anos havia sido demonstrado que, depois de se atingir a carga viral indetectável com um esquema triplo, era possível em alguns casos simplificar o esquema para um com apenas 2 antirretrovirais.

Agora, um pesquisador argentino chamado Pedro Cahn resolveu desafiar o dogma noventista dos 3 medicamentos e descobriu, num estudo com quase 1.500 participantes, que é possível também obter sucesso iniciando o tratamento do HIV já com apenas 2 antirretrovirais.

A novidade divulgada no início da semana é o reconhecimento oficial desse novo jeito de tratar o HIV, com a permissão para o uso do esquema simplificado em pessoas que vão iniciar seu tratamento.

As duas drogas autorizadas, que foram utilizadas no trabalho do Dr Cahn, são o Dolutegravir e a Lamivudina. Ambas já são amplamente utilizadas há anos de forma muito bem tolerada. O esquema não é recomendado para indivíduos coinfectados com hepatite B, para mulheres que têm chance de engravidar e quando há suspeita de resistência viral a algum dos antirretrovirais do esquema.

As vantagens de um esquema com menos drogas são muitas. Menos medicamentos significam menos comprimidos e, portanto, melhor adesão e qualidade de vida. Significam menos efeitos colaterais e menos interações medicamentosas. Significam menos custos para manter as pessoas que vivem com HIV com saúde.

E assim, a ciência avança trazendo as boas mudanças que tornam cada vez mais fácil, do ponto de vista técnico e médico, viver com HIV com tranquilidade e saúde.

Ainda bem que as coisas mudam. E mudam pra melhor.

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Sobre o autor

Médico Infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.

Sobre o blog

Com uma abordagem moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e psicológicos associados ao HIV e ISTs.