PrEP sob demanda falha na prevenção do HIV. E está tudo bem
Na última semana, um fato agitou o mundo da prevenção do HIV. E não foi um estudo apresentado em uma conferência ou o resultado bem-sucedido de um experimento. O mundo ficou sabendo de mais um caso de falha da PrEP na prevenção do HIV.
Sempre que isso acontece, toda uma discussão sobre a eficácia da PrEP se reacende. Mas saiba que, até hoje, 6 casos de infecção por HIV entre indivíduos com boa adesão aos comprimidos da PrEP já haviam sido reportados, além de outros inúmeros entre aqueles com má adesão. Apenas 6 casos dentro de um universo de quase 400.000 pessoas que usam PrEP diária como estratégia de prevenção em todo mundo.
Para a PrEP sob demanda, nunca uma pessoa havia se infectado com HIV utilizando os comprimidos corretamente. Mas essa semana um australiano de 27 anos anunciou ser o primeiro caso de falha da estratégia.
Para quem não sabe, a PrEP "clássica", já conhecida há mais tempo, consiste no uso diário de um comprimido com antirretrovirais por uma pessoa que não vive com HIV, com o objetivo de reduzir as suas chances se infectar com esse vírus em relações sexuais sem preservativo. Ela faz parte de um pacote de prevenção que inclui, entre outras coisas, também o aconselhamento do uso de preservativos o máximo possível e o rastreamento periódico e tratamento das demais infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), o que chamamos de Prevenção Combinada.
A PrEP sob demanda é uma maneira diferente para se manter livre do HIV utilizando esses comprimidos. Ao invés de serem tomados todos os dias, nessa modalidade eles são tomados apenas antes e depois de uma relação sexual sem camisinha, seguindo um esquema posológico específico.
A PrEP diária tem sua eficácia protetora contra o HIV já comprovada em homens e mulheres, tanto em ensaios clínicos quanto na implementação em vida real. Essa é uma das mais potentes ferramentas de prevenção já desenvolvidas até hoje e está revolucionando o controle dos novos casos de HIV no mundo.
A PrEP sob demanda, por sua vez, demonstrou no estudo chamado IPERGAY, que incluiu cerca de 400 homens gays e bissexuais realizado na França, uma redução de 86% na incidência de HIV. Os dois únicos participantes que se infectaram nesse estudo não estavam tomando os comprimidos conforme a orientação médica. Agora, a estratégia está sendo avaliada num estudo maior, com quase 2.000 pessoas na Europa.
Como a evidência científica da eficácia e segurança da PrEP sob demanda ainda está sendo construída, a maioria dos países do mundo, assim como o Brasil, recomendam apenas o uso da PrEP diária. Por isso, o número de pessoas em PrEP sob demanda ainda é pequeno quando comparado com a PrEP diária.
Já sabíamos que a proteção conferida pela PrEP, diária ou sob demanda, não seria de 100%. A falha em 6 a cada 400.000 ou em 1 a cada 2.600 usuários são taxas igualmente excelentes. Isso não torna a PrEP nem de longe inútil ou perigosa. Com a proteção de 99%, a PrEP continua sendo uma das melhores oportunidades que já tivemos até hoje para se reduzir o ainda alto número de casos novos de infecção por HIV, a maior urgência no controle dessa epidemia.
Mas se o seu interesse é apenas pelo que é 100%, saiba que a única estratégia de prevenção que não tem até hoje nenhum caso de falha registrado é o Tratamento como Prevenção com o Indetectável = Intransmissível.
Não há motivos, portanto, para se desesperar com a notícia da falha da PrEP sob demanda no caso do rapaz australiano. Mais falhas são esperadas com a expansão do uso dessa estratégia. Elas servem para nos lembrar que não será uma estratégia sozinha, nem a camisinha nem a PrEP, que vai resolver a questão da prevenção do HIV e sim a associação delas dentro da Prevenção Combinada.
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