Homem que se curou do HIV visita SP deixa sua mensagem aos brasileiros
Na última sexta-feira, era difícil encontrar lugar um lugar vago no teatro da Faculdade de Medicina da USP. Ele estava lotado de pessoas interessadas em ouvir a apresentação de Timothy Ray Brown, o convidado de honra da 14ª edição do curso de atualização sobre HIV realizado todos os anos por essa instituição.
Conhecido como O Paciente de Berlin, Tim Brown ficou famoso em 2008 ao se tornar o primeiro caso conhecido pelo mundo a obter sucesso na cura da sua infecção por HIV depois de um Transplante de Medula Óssea realizado como tratamento de uma leucemia, como já discutido aqui há algumas semanas.
Com seus 50 e poucos anos de idade e sentado numa cadeira, Tim falou por pouco mais de uma hora para uma plateia atenta e silenciosa. Contou sorrindo e com detalhes aos 250 desconhecidos do teatro toda a história da sua vida.
Depois da sua fala, respondeu às perguntas da plateia e ainda teve ânimo para tirar selfies com toda uma fila com algumas dezenas de fãs.
Essa foi a sua primeira vez no Brasil, mas esse roteiro tem se repetido com frequência na vida de Tim nos últimos anos ao redor do planeta. E é fácil notar como ele está feliz por fazer isso. Ainda bem, porque as suas mensagens realmente precisam ser difundidas para todas as pessoas do mundo.
No seu relato, já de cara percebemos que ele não deseja que nenhuma pessoa que vive com HIV tenha inveja por ele ter se curado dessa infecção. Ele conta de maneira detalhada tudo o que passou nesse processo, com todas as dificuldades e sofrimento de cada etapa. Desde a homofobia sofrida no serviço de saúde até os efeitos colaterais dos medicamentos que precisou tomar.
Contou, gargalhando, das complicações neurológicas e das sequelas que desenvolveu em decorrência do transplante para explicar o motivo do seu modo de caminhar lento e "parecendo que está bêbado". Fez questão de lembrar que não quis se curar do HIV apenas para deixar de tomar medicamentos todos os dias, e inclusive escolheu agora usar PrEP diariamente para não se reinfectar com o vírus.
Quando perguntado pela plateia se, caso não tivesse desenvolvido a leucemia e pudesse escolher, ele passaria por tudo o que passou e se faria tudo de novo só para chegar à cura do HIV, Tim surpreende com um "Eu realmente não faria".
A beleza das palavras de Tim Brown está na desidealização da cura da infecção por HIV. E ninguém tem mais propriedade para falar sobre o assunto do que ele. Tim nos convence de que sua vida antes da cura já era boa, com saúde, namorando e fazendo as coisas que gostava. E que o HIV não o incomodava mais do que a LGBTfobia do mundo.
Quando fala isso, O Paciente de Berlin não pretende diminuir a importância do desenvolvimento de uma cura factível, mas apenas lembrar que ninguém deve parar sua vida à espera de chegada dessa cura.
No final do evento um expectador perguntou qual seria sua mensagem para as pessoas que vivem com HIV no Brasil, e Tim Brown foi direto: "Tomem seus antirretrovirais e vivam sua vida".
Timothy Brown é hoje um ativista da luta contra o HIV/Aids. Doou todo o seu corpo para os pesquisadores e criou em 2012 uma fundação para angariar financiamento para pesquisas de cura do HIV.
Carrega consigo a missão de mostrar para o mundo a importância do combate ao estigma associado a esse diagnóstico e do amplo acesso à prevenção e tratamento. E serve de esperança nos lembrando de que as metas difíceis não são necessariamente impossíveis.
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