Cidade de São Paulo elimina a transmissão do HIV de mãe para filho
Estava eu escrevendo o texto que foi publicado nessa coluna na semana passada, quando recebi a notícia de que a cidade de São Paulo tinha recebido do Ministério da Saúde o certificado de eliminação da transmissão vertical do HIV, aquela que ocorre da mãe para o filho durante o processo reprodutivo.
Fiquei feliz com a coincidência pois o texto que estava escrevendo tratava justamente da possibilidade de um casal sorodiferente engravidar da maneira tradicional, sem risco de transmissão do vírus desde que esteja em tratamento antirretroviral adequado.
Apenas dois municípios brasileiros já tinham recebido até hoje esta certificação: Curitiba e Umuarama, ambos no estado do Paraná. Mas nunca no mundo uma cidade do tamanho de São Paulo, com seus 12 milhões de habitantes, tinha atingido a meta. Por isso temos um enorme motivo para comemorar.
Ter ainda o registro de casos de transmissão vertical é a comprovação de que o sistema de saúde está falhando ao longo do cuidado da saúde reprodutiva da população. Isso porque hoje já sabemos que é perfeitamente possível zerar o risco de transmissão do HIV nesse processo.
Durante a gestação e no parto esse risco é inexistente quando a gestante que vive com o vírus está em tratamento antirretroviral com carga viral indetectável. Já na amamentação, a transmissão é ainda possível, mesmo que com risco muito pequeno. Assim, para que não ocorra a transmissão do vírus, a recomendação atual é de bloqueio da lactação na mãe e aleitamento artificial com fórmula láctea para a criança desde o nascimento.
Bastaria então que garantíssemos uma boa cobertura de pré-natal, que incluísse testagens periódicas da gestante, com a vinculação ao acompanhamento médico e tratamento antirretroviral para aquelas que vivem com o vírus, e com o oferecimento da forma láctea para todas essas crianças para que a transmissão vertical do HIV fosse eliminada.
Foi isso que a prefeitura de São Paulo fez. Associado a uma rede de proteção e assistência social chamada Mãe Paulistana, que oferece, além das consultas médicas e exames, o transporte gratuito e um enxoval para o bebê.
No momento, existem pesquisas em andamento testando estratégias para bloquear a transmissão do HIV também durante o período de amamentação, o que tornaria ainda mais completa e natural a experiência da família com o desejo reprodutivo.
É importante destacar que a eliminação da transmissão vertical do HIV na cidade de São Paulo não é o resultado do acaso, mas de uma política pública inclusiva estruturada de longo prazo, que levou em conta o conhecimento científico acumulado na área nos últimos anos.
Exemplos como esse deveriam ser seguidos em mais áreas da prevenção do HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e por mais municípios do Brasil.
Parabéns, São Paulo, por mostrar para o Brasil como se faz prevenção do HIV do jeito que funciona: com embasamento na ciência e sem preconceitos.
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