Dia Internacional da Mulher será celebrado no Congresso Mundial de HIV
Enquanto todos os noticiários do mundo estão voltados para o coronavírus, gostaria de guardar um pouco da atenção para outro vírus. Um que causa uma pandemia desde a década de 1980 e que, somente em 2018, registrou no mundo todo 1,7 milhão de novos casos e 770 mil mortes. Estou falando do HIV, o vírus que sem dúvida mais abalou a humanidade, tanto em termos econômicos quanto em mortalidade.
Mesmo que a opinião pública já não esteja mais muito interessada em falar dele, os cientistas e pesquisadores estão. Mais do que nunca, pois, com a tecnologia disponível hoje, nunca tivemos um momento tão propício na história para eliminar o HIV do mundo.
Esse será um dos temas abordados no Congresso Mundial de HIV (CROI – Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections), que acontece a partir do próximo domingo, dia 8 de março, em Boston, nos Estados Unidos. O CROI é um dos mais importantes congressos científicos sobre o assunto, onde os maiores pesquisadores do mundo se reúnem para trocar suas experiências nos temas de prevenção, diagnóstico, tratamento e cura do HIV/Aids.
O evento se inicia no mesmo dia em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, o que me parece muito simbólico já que, em algumas regiões do mundo, a população feminina é o principal grupo afetado por esse vírus.
É isso mesmo, a epidemia de HIV/Aids não é igual nas diferentes partes do mundo. Essa epidemia na verdade são várias.
No Brasil, por exemplo, segundo os dados do último Boletim Epidemiológico de HIV do Ministério da Saúde, 51,3% dos novos casos de HIV registrados entre homens maiores de 13 anos relataram ser gays ou bissexuais. A incidência dessa infecção cresce mais rapidamente entre os homens com menos de 30 anos de idade, sendo que, na última década, os novos casos praticamente dobraram na faixa de 20 a 24 anos. O Brasil tem, portanto, uma epidemia cada vez mais jovem e masculina de HIV.
Na África, ao contrário, a epidemia afeta pesadamente as mulheres jovens e heterossexuais. De acordo com o último Relatório Anual do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), na África Subsaariana, região que concentra 61% das novas infecções por HIV de todo planeta, 4 em cada 5 novas infecções entre jovens de 15 a 19 anos ocorrem em mulheres heterossexuais.
Em todo mundo, o UNAIDS estima que semanalmente cerca de 6.000 mulheres de 15 a 24 anos de idade são infectadas por HIV, muitas delas relatando terem sido vítimas de violência verbal, física ou sexual em suas vidas, o que as prejudica enormemente na capacidade de gerenciar suas vidas sexuais com saúde e prevenção.
Dessa forma, quando olhamos o mundo como um todo, é fácil perceber que a epidemia de HIV entre mulheres jovens africanas é uma questão realmente séria, e que isso simplesmente expõe uma série de outros problemas sociais relacionados com as desigualdades de gênero.
No CROI, os modelos bem-sucedidos de enfrentamento da epidemia de HIV em mulheres, como por exemplo os de pequenas comunidades africanas em que o envolvimento da comunidade promove o empoderamento feminino, são sempre apresentados para que sirvam de exemplo na elaboração de ações em outras regiões do mundo.
Participar de um congresso mundial como o CROI é uma experiência única e enriquecedora. É compreender que até mesmo os problemas mais difíceis podem ter solução quando existe união de esforços de governos, pesquisadores e sociedade civil.
A epidemia de HIV entre mulheres, assim como a entre gays, usuários de drogas injetáveis, refugiados ou pessoas encarceradas, é uma prioridade para muitos cientistas e pesquisadores, tanto no Dia Internacional da Mulher quanto em todo o resto do ano.
Só precisamos agora que vida dessas pessoas seja também uma prioridade para aqueles que decidem as políticas públicas de saúde.
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