São Paulo usa a ciência para vencer a epidemia de HIV/Aids
Em dezembro são publicados os boletins epidemiológicos de HIV/Aids com os números atualizados dessa epidemia no Brasil e no mundo.
Uma coisa que por anos me deixou triste foi o fato de ver que sempre, no momento da publicação dos boletins, as pessoas ficavam assustadas e lamentavam os números registrados ainda altos de novos casos e de mortes por HIV/Aids, e durante todo o resto do ano se falava muito pouco sobre o assunto. Afinal, se nada de efetivo fosse feito ao longo do ano, era óbvio que no ano seguinte o boletim não teria resultados melhores.
Assim foi a última década. Até que, esse ano, enfim as coisas começaram a mudar. Pelo menos em São Paulo.
Enquanto no boletim epidemiológico brasileiro, divulgado pelo Ministério da Saúde, no ano de 2018 tivemos 43.941 novos casos de infecção por HIV notificados no país, com 1.521 a mais do que no ano anterior, o município de São Paulo registrou uma tendência oposta, com a redução inédita de 18% dos casos em apenas um ano.
O maior município do Brasil teve no ano de 2016 registrados 3.882 novos casos da infecção, a maior incidência já registrada na cidade desde o início da epidemia na década de 1980. Mas a partir daí, os números só caíram.
Além disso, enquanto no resto do Brasil vemos que na última década os casos têm aumentado principalmente entre os homens menores de 30 anos de idade, em São Paulo a maior queda verificada no último ano foi justamente nesse grupo.
Mas o que São Paulo faz de diferente do resto do país pra conseguir isso?
Não é difícil de encontrar a resposta. Em São Paulo, mais do que em qualquer outro lugar do país, estamos tentando colocar em prática a chamada Prevenção Combinada. Aqui já paramos de resumir a prevenção do HIV à camisinha, entendendo que existem diferentes métodos de prevenção para diferentes os estilos de vida.
O uso da camisinha continua sendo estimulado e é possível acessá-la gratuitamente em todos os terminais de ônibus da cidade, mas as coordenações municipal e estadual de HIV e ISTs estão empenhadas na ampliação da distribuição de PrEP e PEP, fazendo com que, em 2018, 48 e 36% das dispensas dessas profilaxias do país inteiro, respectivamente, tivessem sido realizadas apenas no estado de São Paulo.
Estamos batendo recordes de testes para HIV, inclusive com a distribuição gratuita de autotestes e com ações que utilizam unidades móveis, fora dos serviços de saúde e do horário comercial. E com isso estamos conseguindo reduzir o tempo entre a infecção por HIV e o início do tratamento antirretroviral.
E, principalmente, estamos conseguindo falar sobre HIV e sexualidade. Sem preconceito, sobre estigma e discriminação, e sobre prevenção e tratamento. De maneira pioneira, estamos fazendo até propaganda oficial sobre PrEP e Indetectável = Intransmissível.
Fazendo isso, estamos usando o conhecimento científico acumulado sobre HIV para elaborar políticas públicas. Da mesma forma como na eliminação da transmissão do HIV de mãe para filhos, certificação obtida recentemente pela cidade. E da mesma forma que outras cidades que estão conseguindo o mesmo resultado.
Eu sei que o resto do Brasil é bem diferente de São Paulo e que, mesmo aqui, temos ainda uma gigantesca desigualdade de acesso à saúde para resolver. Sei que ainda temos muito trabalho pela frente até dizer que o HIV/Aids não é mais um problema para a humanidade. Mas não posso deixar de comemorar os bons resultados e a mudança no padrão de crescimento dos casos de HIV como resultado de um trabalho bem feito.
Comemoro por ver que já sabemos como vencer o HIV/Aids, só é preciso colocar o plano em prática. Entretanto, enquanto o plano no Brasil for silenciar o assunto e apenas repetir o mantra "Use camisinha", pelos próximos anos continuaremos a ver a epidemia de HIV/Aids crescendo descontroladamente no país.
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