PrEP passará a ser distribuída gratuitamente nos Estados Unidos

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No início de 2019, o presidente Donald Trump anunciou o plano de eliminar a epidemia de HIV nos Estados Unidos até 2030. Naquela ocasião, ele foi bastante criticado por conta do posicionamento que tradicionalmente adotou perante as questões relacionadas ao HIV e às populações mais vulnerabilizadas a essa epidemia, como os LGBTs, negros, latinos e imigrantes.
Agora em dezembro, no entanto, anunciou uma medida considerada por especialistas como fundamental para que consiga atingir sua meta. A partir de agora, a dispensação do medicamento utilizado na PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV) passará a ser gratuita em todo o país para as pessoas que tiverem indicação.
Os Estados Unidos têm uma epidemia de HIV com características parecidas com a brasileira. Os dois países têm em torno de 1 milhão de pessoas vivendo com o vírus e cerca de 40 mil novos casos registrados todos os anos. Casos esses que se distribuem de maneira completamente heterogênea na população, se concentrando cada vez mais nas ditas populações chave mais vulneráveis, como por exemplo homens gays e bissexuais, pessoas trans, trabalhadores do sexo e usuários de drogas, sendo que nos Estados Unidos há uma concentração ainda maior entre negros e latinos.
Países com epidemias de HIV assim concentradas que não têm políticas públicas específicas para esses grupos populacionais, com o objetivo de reduzir a desigualdade e exclusão social a que historicamente são submetidos, são países que dificilmente conseguirão vencer essa epidemia. Mas resultados recentes de diversas partes do mundo têm mostrado que a implementação da PrEP direcionada para populações chave tem um impacto importante e rápido na redução dos novos casos dessa infecção, e pode ser um bom começo para esse processo de eliminação da doença, enquanto as outras questões sociais não são resolvidas.
Nos Estados Unidos, o uso da PrEP já é recomendado oficialmente desde 2012, entretanto, para acessar a estratégia lá, cada indivíduo deve arcar com os custos do seguimento, o que limitava bastante o acesso para justamente as populações que mais se beneficiariam dela. Basicamente só era possível iniciar a PrEP lá se você fosse muito rico ou se tivesse um bom plano de saúde.
O anúncio atual da distribuição gratuita do medicamento, no entanto, resolverá apenas parte das barreiras do acesso à PrEP, uma vez que os gastos com os exames realizados no seguimento e com profissionais da saúde ainda precisam ser custeados pelo usuário.
No Brasil, desde o final de 2017 temos a PrEP disponível pelo nosso sistema público de saúde, com oferecimento gratuito do medicamento, exames e atendimento, porém o alcance da estratégia está muito aquém do ideal e os serviços se encontram superlotados.
Segundo dados do Ministério da Saúde, até o final de novembro de 2019, dois anos após o início do programa brasileiro de PrEP, 15.859 pessoas tinham iniciado o uso da estratégia de prevenção em todo país, com uma distribuição completamente desigual entre os diferentes estados. Nos Estados Unidos, mesmo com a PrEP paga, esse número já está chegando perto dos 200 mil usuários. E aqui no Brasil, apesar da baixa cobertura de PrEP, a estratégia continua completamente invisibilizada nas campanhas de prevenção do Ministério da Saúde, que, de maneira retrógrada, insistem em citar o uso da camisinha como único método possível de prevenção do HIV.
Assim, se quisermos poderemos também aqui eliminar a epidemia de HIV até 2030, mas para isso não basta termos a PrEP gratuita no serviço público da saúde. É preciso divulgar isso de modo direcionado para as populações chave, além de garantir que os serviços de saúde vão dar conta de absorver toda a demanda reprimida.
E isso é só o começo, mas já seria um bom começo.
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